Quem é você?

Essa pergunta, me jogaram na cara um dia quando abri a porta de casa. Desde então durmo com ela, acordo com ela, me irrito com ela, me acalmo com ela. Acho que nos casamos. Tem uns caras aí que tem me guiado numa espécie de desalfabetização do eu, me ensinando a desver. Daí as imagens pulam enquanto contemplo a derradeira questão na prova da vida. Me chegam aquelas famosas imagens da Gestalt de figura e fundo, sacam? As faces e a taça, a moça e a velha. Sinto-me naquele esforço de quando você só vê a velha e te juram que tem uma moça ali. É mais ou menos assim, você se acostumou a ver a si mesmo como a primeira imagem que saltou a sua frente: te deram um nome, você se mirou num espelho, te vestiram de rosa, te falaram algumas coisas boas outras nem tanto, você se perdia no mundo e te explicaram que você era pisciana, você encontrou algumas pessoas estranhas na vida e passou acreditar que era pára-raio de maluco. Dia após dia suas experiências foram desenhando um perfil e você se viu e acreditou que era aquilo e aquilo era tudo: a taça, a velha.

A dúvida é um bem que se conquista na maturidade. Você chega na meia-idade e o Raul te cutuca com o Ouro de Tolo “e daí, eu tenho uma porção de coisas grandes para conquistar e não posso ficar aí parado!” Aí é na taça, na velha. E de repente a gargantilha aparece, onde só se via a boca. Ali no fundo daquilo que você chama “eu” tem uma testemunha silenciosa, que percebe todos os dramas da “velha-eu” e essa “moça aí” permanece quieta, sempre ficou na dela em todos os dramas do viver. Fui buscar essas imagens na Web para ilustrar esse texto e aí me deparei com o Escher denovo! Essa imagem foi eleita perfeita para essa pergunta. Tem uma mão que segura todo o cenário do eu, que se observa como objeto. E o eco dos novos ensinamentos que vem se decantando noite e dia é: se tem alguém que testemunha esse eu-objeto e se eu for o objeto - esse que tem um nome, um sexo, uma idade, uma profissão, qualidades, história - quem é o que segura tudo na mão e vê?

Acho que essa pergunta anda me remoçando!

E você, quem é você?